O ruim de dormir próximo a igrejas é que logo pela manhã você é acordados com gritos fervorosos que buscam afirmar uma verdade que o próprio silêncio deveria ser o arauto: estamos perdidos e temos tanta certeza do porquê estarmos aqui quanto uma criança que acabou de nascer. Essas atitudes de auto-afirmação me fazem pensar.
Por que alguém ia querer me prender em um conjunto fechado de crenças arbitrárias e dogmáticas? Talvez, porque a maneira sistemática e auto-centrada de se lidar com as crenças pessoais forneça uma narrativa unificada pela qual viver e, ao aceitá-la não há mais nenhuma dúvida ou confusão de como uma pessoa deveria se comportar. Esse tipo de facilidade, através de filosofias “práticas” ou pessoais – ou religiosas neste caso – trazem uma falsa e rasa paz mental.
As pessoas não percebem que a verdade, o conhecimento e o genuíno preenchimento intelectual e/ou espiritual jamais poderão ser encontrados em sistemas superficiais onde o absolutismo trai a condição humana. Uma vez que esses sistemas – crenças ou princípios – que guiam e se dizem a chave para uma vida digna, quando observados mais atenção, evidenciam-se apenas conclusões pré concebidas ou simplesmente preconceitos.
São ideias absolutas construídas em torno de características únicas e particulares que as fazem fortes e críveis, pois satisfazem sua fraca necessidade de coesão filosófica e moral.
Ao atingir esse nível de mediocridade humana, em que as pessoas sentem quando elas percebem que já sabem tudo; passam a se auto-proclamar “sábios” sem nenhuma gota de ironia e acabam consumidos pela própria ideia de que a iluminação intelectual os gratificaram.
E a realidade é implacável em ruir com crenças.
Programador, sonhando em ser escritor e falhando em ser humorista.