Onde está a consciência e o que ela é?
É um padrão cerebral que sempre está lá?
E se toda vez que você acorda, seu cérebro está apenas criando uma nova instância da sua consciência? Talvez suas memórias, seu comportamento, sua personalidade sejam apenas sussurros da sua mente; mas você, você é só uma versão de hoje de você; nada mais, nada menos.
Se alguém morresse por meia hora e depois ressuscitasse, sua consciência seria restaurada ou seu cérebro geraria uma nova consciência que acha que é a mesma da anterior pois ela tem as mesmas memórias?
Eu nem sei dizer que tipo de resposta eu preferia que fosse a verdadeira.
Toda vez que vou dormir me pego com dúvidas cruéis que vão além da minha imaginação. E o que acontece no espaço de tempo entre ir dormir e acordar? Toda noite, quando a lua sobe aos céus, marchamos convictos rumo às trevas, sem ao menos saber qual é a verdade por trás do mecanismo que mantém os espaços das batidas dos nossos corações ou mantém nossos pulmões em sincronia durante esse nobre e longo silêncio que nos submetemos.
Somos realmente a mesma pessoa quando nós acordamos? Ou ao amanhecer somos uma mera cópia de carbono da criatura pensante que se deitou na noite anterior? Um estranho pedaço de memória artificial, uma vida encravada em projeto frágil de pensamentos finais de uma alma adormecida? Não é de se espantar que todas as nossas ambições, aspirações e esperanças são perseguidas até o último instante.
Eu sempre acreditei nessas coisas. Via o cair da noite como um belo abraço aconchegante na querida morte; porém temporário, com validade de volta à vida. Sonhar era a melhor parte, um sussurro deslizante – como o bater de asas cinzentas ou as pernas trêmulas de uma mariposa depois de uma vida curta e infrutífera ao perseguir o objetivo invisível e magnânimo.
Consciência não está no cérebro. Essa ideia é um produto da importância que nós damos a esse órgão, talvez isso seja completamente ideológico porque estamos prestando atenção na análise de informações e não em sua síntese.
É o mesmo que dizer que os sentimentos estão no cérebro. Isso é uma noção comum tão grande que é até difícil se opor a isso, é sem sentido apontar o coração como responsável, apesar do fato de representarmos isso com o coração. Isso ocorre devido ao fato de que a informação é percebida através dos olhos, orelhas e etc.; após ser processada pelo cérebro, sinais são enviados para liberar certos químicos e então seu coração começa a bater mais forte.
Mas em que etapa o sentimento é sentido? Não é quando seu coração começa a palpitar alucinadamente? E claro, ao notar isso, você desencadeia vários outros processos cerebrais.
Acho que é por isso que várias outras culturas dizem que nós pensamos com o coração, porque para eles os pensamentos estão conectados com as observações das respostas do seu corpo, não é um pensamento meramente abstrato. Não é que o coração seja independente do cérebro, mas as emoções são sentidas a partir dos produtos químicos liberados.
Você é capaz de dar um nome ao que você percebe mesmo que você não saiba qual a linguagem química que o seu corpo fala dentro de si. Esse é só um exemplo acerca da emoção, apesar de que deveríamos ser cientes de quão tendencioso é pensar que a consciência está no cérebro. É estranha essa crença de a consciência é mais parecida com racionalizações do que tudo e que o núcleo do que você é, é tudo o que você pensa e não o seu corpo.
Filósofos erroneamente reivindicam a consciência como domínio deles (unicamente devido à natureza ainda desconhecida do seu estudo como uma ciência) e é lamentável e quase análogo ao Deus das Lacunas argumentativas de apologistas cristãos. Nós não temos evidência nenhuma para sugerir que a consciência seja alguma coisa além de um produto natural das interações materiais dentro do crânio humano. É só isso. É só físico. Crença por outro lado, é quase sempre apenas um desejo, uma maneira de pensar pelos filósofos.
Nós assumimos que consciência é nosso “entendimento”. E então, excluímos o que não é parte desse nosso próprio “entendimento”. E o que significa entender algo? Ao invés de pensarmos em órgãos, se vocês me permitem, pensemos em verbos.
Seria a consciência algo sobre entender, perceber, pensar, racionalizar, sentir, relacionar, significar? Qual é mais próximo do conceito de consciência? O que eu quero dizer é que a ideologia atual vai sempre favorecer um a outro e somos rápidos demais para julgar a consciência como um processo que aparenta englobar somente o ato de pensar, uma reação elétrica dentro de nossos crânios.
Como nos identificamos com essas reações, achamos que elas são o que nos compõe e pensamos que o resto do corpo é descartável, apenas atrelado a nós. Acreditar que nós temos corpos ao invés de sermos é estranho.
Só depende de como você define você mesmo e essa definição depende da importância que você dá a certas coisas. Um atleta ao perder uma perna, muda o que ele é de uma maneira muito mais dramática que um programador nerd, pois para o atleta, suas pernas dizem muito mais sobre o que ele é.
E é por isso que quando perdemos um braço ainda nos sentimos nós mesmos. Não identificamos com nosso corpo tanto assim. Por outro lado, quando pensamos na nossa mente sendo uma linha contínua, acreditando que ela é a mesma de quando éramos crianças e ela continua igual hoje, já que perdê-la ou admitir uma mudança, seria nos perder.
O meu ponto é que nunca somos a mesma coisa, não importa o que aconteça. Eu não me sentiria tão diferente se eu perdesse um dedinho do pé. Então ao invés de ter essa noção de si mesmos ou de consciência sendo uma “coisa” que permanece em você, talvez devêssemos prestar atenção na contínua transformação que sofremos.
Programador, sonhando em ser escritor e falhando em ser humorista.