Me lembro de ir à casa do meu avô quando pequena ouvir as histórias dele. Ele era um homem muito recluso e jamais nos visitava, então eu tentava passar o maior tempo possível com ele. Me lembro como se fosse hoje quando ele começou aquela história.
– Alice
Vovô, conta uma história de quando você era novo.
Um colega meu, uma vez me disse que “o dinheiro era falso”. Ele disso isso depois de ter mudado de casa e ter pagado seu primeiro aluguel. Isso foi na minha juventude e foi um choque suficiente que ecoaria para sempre na minha cabeça.
Isso aconteceu há muito tempo, Alice, mas lembro-me como se fosse ontem. O dia em que o capitalismo caiu ante aos hábeis hackers de nosso tempo, nos ensinou brevemente o que era liberdade e acima de tudo, nos ensinou a temer.
Era uma sexta-feira, como qualquer outra, a prole como eu comemorava o descanso na nossa antiga internet enquanto eles se preparavam para o golpe. Era um grupo de poucas pessoas insatisfeitas com o mundo e com o rumo da humanidade, entre eles 2 brasileiros. Se intitulavam os “10 Enki”, os libertadores da humanidade.
No sábado, havia ricos e pobres.
Como é hoje em dia vovô?
Não Alice, eles não tinham medo de perder o império, então era melhor. Tínhamos liberdade, ainda que dependente do dinheiro.
No domingo, atacaram todos os bancos, com um vírus. Um vírus que trouxe todos nós à estaca zero. Eles conseguiram corromper todo o sistema de transação, os valores das contas e os donos pertencentes a elas. De repente, todos tinham a mesma quantidade de riqueza. Éramos finalmente iguais.
Era uma utopia. A utopia do caos.
Programador, sonhando em ser escritor e falhando em ser humorista.